Sobre as músicas do blog... Não devem ser consideradas simples "fundos musicais" para os textos... Foram escolhidas com carinho e apreço, dentre o que há de melhor... São verdadeiras jóias que superam em muito os textos deste humilde escrevinhador... Assim, ao terminar de ler certo texto, se houver música na postagem, termine de ouví-la, retorne, ouça-a novamente se toda atenção foi antes dedicada ao texto... "interromper uma bela música é como interromper uma boa foda... Isso não se faz!..." Por último, se você conhece uma música que, na sua opinião, combina melhor com o texto, não deixe de enviar sua sugestão...

Vagalhão

Música deste post (é bem melhor com música):"Tenderly" Composição  de  Walter Gross com letra de Jack Lawrence (1946). Interpretação de Shrin.

 

 


Drowning man  - 1983 - Richard BOSMAN - óleo sobre tela
 


Vagalhão

Em meio à agitação,
descalço-me,
arregaço as calças,
faço, do tapete denso,
areia macia, quente,
onde caminho,
apegado ao meu bem-querer...
à vontade de viver...

A secretária, sem saber,
adentra à minha praia,
desata minha mão,
tira minha atenção...

Afogo-me em meio ao vagalhão...
Nado afoito de volta à realidade...
Termino o dia com saudade,
do que não é de verdade,
faço do sonho minha deidade...



Pontuações da mente...

Música deste post (é bem melhor com música):"For All We Know" Composição  Fred Cootscom letra de  Sam M. Lewisde  (1934). Interpretação de Harry James e Septeto.



'In Mind X' - Achim Prill - Técnica mista sobre madeira





Pontuações da mente

Pontuam-me a mente os amores...
As dores... Os dissabores...
Pontuam-me a mente as vitórias...
Doces glórias... Arroubos em oratórias
Pontuam-me a mente rostos,
corpos, olhos, cílios e lábios...
Pontuam-me a mente declarações...
Demonstrações, financeiras, de renda,
de fraqueza, de coragem,
de rancores, de  amores...

Pontuam-me a mente os porquês,
juntos e separados...
As questões e as explicações...
Mais do que tudo...
Pontuam-me a mente as razões da vida...
E da morte...
Pontuam-me a mente as razões de ser
e de não ser...
No fundo, prendem-se à questão da nobreza,
tal qual ao Príncipe da Dinamarca...

Pontuam-me a mente as rimas...
Que escapam em prosas teimosas...
As palavras deixam de ser formosas...
Os rostos se transformam em máscaras,
a vida em simulacro fugaz...
Pontuam-me a mente de forma sempre presente...
Em caráter premente,
desejos tão-somente,
que provocam, simplesmente,
um estado fremente...
Que estupidamente,
inexoravelmente,,
de maneira veemente,
toca-me sensivelmente,
torna-me demente!

Homenagem

Música deste post (é bem melhor com música):"L'Hymme a L'Amour" . Compoisção de Marguerite Monnot, letra de Édith  Piaf. Interpretação de Wynton Marsalis & Richard Galiano (Jazz at Marciac 2008).



AMOR SEM FIM (ENDLESS-LOVE-PAINTING)  - AlLFRED GOKEL

Elejo este quadro à minha postura perante a vida.

Não carrego ódio, mágoas, ressentimentos, malmequeres...

Talvez algumas restrições,

mas somente as estritamente necessárias ao bem-viver.

Não tenho ex-amores: continuo amando todas a quem amei,

não tenho inimigos,

contos os amigos na mão,

a mesma que a todos estendo sem restrição,

sempre com a mesma atenção.


Somos jovens

Música deste post (é bem melhor com música):"Body And Soul" (Corpo e Alma). Compoisção de Johnny (John Waldo) Green, com letra de Edward Heyman, Robert Sour e Frank Eyton. Interpretação de Paul Weston e Orquestra.


  


Young Yet - Jim Warren - oil on canvas

 

Somos Jovens


Nossos corpos...
Não são jovens...
Trazem as marcas do tempo...
No rosto, nos cabelos...
As marcas do sofrimento, das preocupações, da experiência...
No embaçamento dos olhos, as desilusões...
No corpo, ressaltam os excessos da boca, do sol, do sedentarismo...
A lerdeza dos membros retratam o cansaço dos músculos...
A murchidão dos sexos testemunham os tesões vividos... 


Nada disso encobre e ilide a natureza do ser...
Que traz consigo esperança infinda e chama que não se apaga...
E a sonhar torna a pele viçosa...
O corpo faceiro, a bunda gostosa...
Os braços ágeis, as pernas lépidas...
Os peitos e lábios voluptuosos...
O caralho e colhões volumosos...
O ser renasce como fênix...


Nossos corpos...
Não são jovens...

Na idade do ser...
Mas infinito é o poder
que transcende a matéria...
Que a vivifica com o desejo,
com a vontade de ser...
Com a vontade de querer... 
 
“The mystery of human existence lies not only in just staying alive,
 but in finding something to live for”
Fyodor Dostoyevsky
 
   Neste post homenageio Johnny (John Waldo) Green, autor da belíssima canção Body & Soul (1930), tornada um clássico do jazz primeiro por Coleman Hawkins (1939) e, depois, gravada por inúmeros intérpretes jazzísticos (talvez seja a música mais gravada do mundo do jazz).  

De muitas vidas

Música deste post (é bem melhor com música):"Emily" Compoisção de Johnny Mandel, com letra de  Johnny Mercer (1964). Interpretação de  Zoot Sims Quintet (1981).



Teun Hocks - Man With a Ssack
  
De muitas vidas
  
Trago comigo, de muitas vidas,
experiências, feridas...
Conhecimentos que qualquer ser
gostaria de ter...
E vem-me à boca um sabor
que é de todo um amargor...
Que me faz não mais querer
saber e saber... 

Trago comigo, de muitas vidas,
marcas de paixões sentidas...
São elas que me permitem
que em meu peito habitem
diferentes amores,
de todas as cores,
num querer furta-cor
de eterno frescor. 

Trago comigo, de muitas vidas,
lembranças de alegrias vividas...
A elas retorno nos momentos difíceis,
tornando-os mais leves, menos sofríveis...
 
Não lamento, pois, em minha existência,
nada além da ausência...
De um ser... Um ser a quem se doar,
alguém para desfrutar
o pouco que edifiquei...
Aquilo que me tornei...


The Riddle of St. Ives

           I met a man with seven wives
          Every wife had seven sacks
          Every sack had seven cats
          Every cat had seven kits
          Kits, cats, sacks, wives.
          How many were going to St Ives?

 All potential answers to this riddle are based on its ambiguity because the riddle only tells us the group has been "met" on the journey to St. Ives and gives no further information about its intentions, only those of the narrator. As such, any one of the following answers is plausible, depending on the intention of the other party:
If the group that the narrator meets is assumed not to be travelling to St. Ives (this is the most common assumption),the answer would be one person going to St. Ives; the narrator.
If the narrator met the group as they were also travelling to St. Ives (and were overtaken by the narrator, plausible given the large size of the party), the answer in this case is all are going to St. Ives; see below for the mathematical answer.
 If the narrator and the group were all travelling to St. Ives, the answer could also be all except the narrator and the man since the question is ambiguous about whether it is asking for the total number of entities travelling or just the number of kits, cats, sacks and wives. This would give an answer of 2,800 — 2 fewer than the answer above;
Two is also a plausible answer. This would involve the narrator meeting the man who is assumed to be travelling to St. Ives also, but plays on a grammatical uncertainty, since the riddle states only that the man has seven wives (and so forth), but does not explicitly mention whether the man is actually accompanied by his wives, sacks, cats, and kittens.
Yet another plausible is zero, once again playing on a grammatical uncertainty. The last line of the riddle states "kits, cats, sacks, wives ... were going to St. Ives?" Although the narrator clearly states he is going to St. Ives, by definition he is not one of the kits, cats, sacks, or wives, and based on the common assumption that the party was not going to St. Ives, the answer is zero.
The sacks are not a person or animal and therefore cannot be in the calculation. It was not the number of things, but of "persons" the narrator met. 49 adult cats 343 kittens per wife of whom he had seven (7 × 392) = 2744 plus the seven wives 2751 plus the man + the narrator 2753 persons and animals;
There are nine people involved, who may be going to St. Ives. The animals are all in the sacks, so they, as well as the sacks themselves, are "being taken", rather than "going";
There are nine people involved, who are the only ones who may be going to St. Ives, all the others "being taken" there. But since the question is limited to "Kits, cats, sacks, wives", this excludes the man and the narrator, leaving seven;

Confissões indevidas

Música deste post (é bem melhor com música):"Autumn In New York". Composição de Vernon Duke. Interpretação: Chet Baker.


Confissão de Pinocchio - Kathryn Renne - Técnica Mista


 
Confissões indevidas...


Vejo-me cercado de seres humanos...
Filhos, parentes, amigos...
Até estranhos... Pretendentes a novas amizades...
E entres goles de scotch, vinhos, cervejas, licores, acepipes, doces e sorvetes,
meu olhar fixa o nada...
Tudo vejo porém...
E apercebo-me que olho para mim mesmo...
Um vácuo interior...
Falo de forma autômata, comento esportes, discuto teses...
Como se fosse outro a falar...
Ouço as vozes distantes,
Soam sem substância, só fazem assarapolhar o som...
As músicas que escolhi com esmero, quase carinho... 


As pessoas não se apercebem do meu vazio interior
Cumprimento-as, dou-lhes sorrisos, pergunto como vão, respondo a perguntas semelhantes...
Passo a preferir conversas virtuais...
Falo com quem não conheço pessoalmente...
Tornam-se personagens... Imagino-as como quero...
Com os atributos que me interessam...
Como gostaria de vê-las...
Tenho, assim, medo de conhecê-las e quebrar este mundo...
Que vagarosamente acabou por se formar...
Pequeno, mas que me permite rever sempre que quero...
Nas palavras que disse, naquilo que disseram
e ficou gravado no computador...
Imagino se grandes filósofos, cientistas e artistas da história, quando contemporâneos, pudessem trocar informações de forma assim, instantânea, e revê-las, alterar, corrigir o que foi dito...


E quando chega a noite, na solidão revejo, leio, tudo aquilo...
O raiar do dia me pega ainda ali, a voltear o passado recente...
Retorno para uma realidade triste...
De interesses materiais, de comportamentos convencionais...
De hipocrisias inocentes e atitudes incoerentes...
Veladas por ternos caros, tailleurs de corte fino e cores sóbrias, roupas esportes de grife, ornadas com Rolexes, Ômegas, Vacherons Constantins, Cartiers, H. Steins, celulares e smart-phones que emprestam respeitabilidade à vilania, condescendência à ambição exagerada, vistas através de Maui Jim, Oakley, Dolce & Gabana, Ray-Ban, de maus-cheiros encobertos por Jo Malone, Jadore, Channel Nº 5, Armani, Caroline Herrera, Acqua di Parma...
Elogios e deferências já não me comovem, críticas muito menos, preocupo-me mais com meu mundo virtual, sem saber se quem está do outro lado está com ou sem roupa, se tem ou não dinheiro, se trabalha ou vive na vagabundagem, se mente ou fala verdades, se está ou não à caça pela justiça ou polícia...
Zelo mais pelo que não tenho do que pelo o que está ao meu lado...
É mais fácil acreditar no que dizem aqueles que não conheço...
Sou, enfim, alguém descrente com a realidade, que busca na virtualidade encontrar alternativa não à vida, mas à esperança, posto que essa, em relação àqueles que me rodeiam, sucumbe dia-a-dia...