''Warriors and Angels' (Guerreiros e Anjos) - 2007 - Emilio Merlina - acrílico sobre ferrororo |
Guerreiros... Guerreiras...
Ser guerreiro... Guerreira... Parece ser o anseio de todo ser humano. Homens e mulheres atribuem-se feitos de glória: na luta pela sobrevivência, no trabalho, em casa, na cozinha, na cama, nos amores... E “desamores”, principalmente...
É assim como se a natureza do ser humano exigisse dele essa condição... E exige mesmo! Ela foi sine qua non à existência da raça humana...
Todavia, hoje só bandidos e policiais fazem guerra, vivemos tempos “de paz”... Tempos “de perdão”... Só não se perdoa as coisas do amor... Que ironia! Tempos do “deixa prá lá”... E se não deixarmos somos recalcitrantes, “não nos adaptamos”, somos intransigentes, somos tudo, menos guerreiros... Guerreiras...
Os guerreiros de hoje, civilizados, fazem guerra de terno e gravata... Apertam inúmeros botões multicoloridos, que lançam mísseis, destroem vilas, cidades, países... Com um copo de uísque na mão... Botões que disparam as subidas e descidas das bolsas de valores e assim destroem fortunas, impérios econômicos construídos à custa de sangue, suor, trabalho e ideal dos nossos antepassados... Botões que disparam e-mails incólumes pelo anonimato, mofinas que destroem vidas e lares, posts no Facebook que caluniam, insultam, “dão o troco”, verdadeira guerra... Esses são os guerreiros... Na segurança da distância virtual todos são guerreiros...
Somos guerreiros que clamam por aposentadoria, “o descanso do guerreiro”... Regozijamo-nos em assim nos intitularmos... Cada um acha que sua batalha foi e é a maior... Mas estamos todos aqui, aí, acolá... Vivos... Os verdadeiros guerreiros, aqueles que fizeram a história, não morreram na aposentadoria, só a fizeram porque morreram fazendo-na...
Somos, isso sim, meros sobreviventes... Aproveitamo-nos, e porcamente, porque estamos destruindo tudo, de tudo aquilo que nos deixaram os verdadeiros guerreiros... Regado à sangue... Comemos do banquete os restos... Chamamos de batalhas e "guerras" a busca desenfreada do alimento além do necessário, do dinheiro para o carro novo, a casa própria, a viagem de férias, pagar as prestações disso tudo, ajudar o filho, a filha, os agregados, os netos atravessados, mas assim mesmo bem-vindos... Cuidar dos velhos... Que também não são guerreiros, porque senão velhos não teriam ficado velhos (Hi! Tô falando de mim!)... E nos pegamos, após a casa cheia de “amigos”, filhos, parentes, na mais completa solidão... Vamos à Internet buscar alguém pra conversar... Sites de relacionamento...
Têm-se, pois, que olhar-se à história, do mundo e à nossa própria, para atribuirmo-nos a condição de guerreiro, indagarmos a nós mesmos sobre nossas glórias e conquistas... Não aquilo que meramente fizemos para sobreviver... E com honra — aquelas obtidas através da infâmia, do mau-caráter, da covardia, do sacrifício alheio, mediante ardil, não podem sequer ser chamadas de vitórias.... Quanto mais de guerreiros...
Somos, acima de tudo, sobreviventes de nós mesmos... Aos cantos, cheios de frustrações, sem verdadeiras batalhas... Mas teimamos em nos intitular “guerreiros”... “Guerreiras”... Um típico caso de metáfora... Ou metonímia... Meras figuras de palavras... Figuras de linguagem... Figuras...
Meu quadro...
Está a borrar...
Pinceladas demais...
Tintas sobre tintas...
Está na hora da pincelada final...
Seu texto lembrou-me (não sei se coerentemente) a música de Fagner- Guerreiro menino:
ResponderExcluir...É triste ver este homem
Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo
Por sobre seus ombros
Eu vejo que ele berra
Eu vejo que ele sangra
A dor que traz no peito
Pois ama e ama....
O arremate foi magistral: " Somos, acima de tudo, sobreviventes de nós mesmos."
Sempre tirando o chapéu pra ti.