Música deste post (é bem melhor com música): "You'll Never Know". Composição de Harry Warren com letra de Mack Gordon.A canção foi escrita com base no poema escrito pela jovem Dorothy Fern Norris e introduzida em 1943 no filme "Hello, Frisco, Hello", cantada por Alice Faye. A canção ganhou o Oscar de 1943 como Melhor Canção Original e voltou a ser interpretada por Faye no filme "Four Jills in a Jeep", de 1944. Interpretação de Harry James & Orchestra (1976).
Sobre as músicas do blog... Não devem ser consideradas simples "fundos musicais" para os textos... Foram escolhidas com carinho e apreço, dentre o que há de melhor... São verdadeiras jóias que superam em muito os textos deste humilde escrevinhador... Assim, ao terminar de ler certo texto, se houver música na postagem, termine de ouví-la, retorne, ouça-a novamente se toda atenção foi antes dedicada ao texto... "interromper uma bela música é como interromper uma boa foda... Isso não se faz!..." Por último, se você conhece uma música que, na sua opinião, combina melhor com o texto, não deixe de enviar sua sugestão...
Idiotices
Música deste post (é bem melhor com música): "Maple Leaf Rag". Composição de Scott Joplin (1899). Interpretação de Scott Joplin.
Almas gêmeas
Música deste post (é bem melhor com música): "More Than You Know". Composição de Vincent Youmans (19290 com letra de Billy Rose e Edward Eliscude, Interpretação de Harry James e Geoff Love Orchestra, Londres..
Quero
Som e imagem do post: Antes de adentrar ao texto: Ligue o vídeo, clique no "x" menor para desativar propaganda, - Leia ao som da música, retorne para ver as imagens ou veja-as antes de ler... Acione o vídeo de novo para fazer a leitura ao som da música...
Quero...
(Inspirado no tango, nas pinturas acima e, é lógico, em algo mais...)
Quero...
Um naco da tua vida,
Um pouco dos teus beijos,
Teu corpo por inteiro!
Quero saber-te ao meu lado,
Não mais um desgraçado,
Carente de amor!
Quero viver-te intensamente!
Teu amor continuamente
Que não seja intermitente...
Quero ao teu lado estar presente,
Ser só teu eternamente,
Nunca mais estar ausente.
Meus braços serão tua guarida:
Neles jamais serás ferida!
Serás minha amante aguerrida.
Serás para sempre querida.
Em vão...
Música deste post (é bem melhor com música): "Rockin' Chair". Composição Hoagy Carmichael. Interpretação de Harry James e Orchestra.
Enigma
Música deste post (é bem melhor com música): "Enigma". Composição de J.J. (Jay Jay) Johnson (James Louis Johnson). Interpretação (1953) de interpretação de Miles Davis (trompete), J.J. Johnson (trombone), Jimmy Heath (sax tenor), Gil Coggins (piano), Percy Heath (baixo) e Art Blakey (bateria)..
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'Enigma' - 2011 - Ulla Wobst - óleo sobre tela |
Enigma
Que enigma, charada indecifrável carregas...
Enteléquia que encerra ambas as acepções:
de realização plena de uma tendência transformativa e...
Nongonongo!
Cuja luz do olhar transforma-me em licnomante...
Reduz-me à condição de taumaturgo...
Que ao penetrar-te transforma-se em harúspice
A profetizar forma de ser... Do seu ser...
Teu proceder...
Que cubo mágico de infinito lados compões...
Viro, te reviro, torço, te contorço...
Estrincas, destrincas, retorces...
Nada revelas...
Tento, em violenta avulsão, extrair-te a espontaneidade...
Mas és mulher...
Vestida com um tipo de albonoz
cujo capuz torna-lhe a mente inescrutável...
E acaso não são assim todas as mulheres?
Policiadas, sofrósinas, colecionadoras de prudências...
Cujas misandrias sobrevêm-se às cópulas... Os amores...
— Homens prá quê? Senão prá isso?
Ou desvairadas, de doces loucuras...
Vinganças infindas e incomensuráveis...
Que enigma é você?
Que abres em flor e te fechas em copas...
Que dás a entender que tudo sei,
porém confirmas que coisa alguma jamais saberei...
Que tipo de enigma és tu...
Que segredos carregas...
Ó esfinge que me assombra..
Me devora... Me apavora...
Sem medidas...
Música deste post (é bem melhor com música): "Blue Reverie". Composição de Harry Carney e Duke Ellington. Interpretação de Benny Goodman e Orchestra (1938).
Sem Medidas
Não tenho medidas para meu sonho
Não tenho medidas para amar
Não tenho medidas...
Carrego comigo sentimento indizível
De incomensurável paixão...
De incomensurável tesão...
Carrego comigo as asas do amor...
De envergadura infinita
Que voam em meu pensamento
Embotam-me o discernimento
Apaziguam meu interior
Fazem crer-me que há amor
No mundo, no ser, no querer...
Inflo meu peito com coragem maior
Fruto desse sentimento
E sinto que não tenho medidas...
Nem quero tê-las...
As asneiras... Quero cometê-las...
Todas... Uma a uma...
Mas só aquelas que digam respeito ao amor
A amar... A imaginar... Sob as asas do meu amor...
Certo calor...
É impossível...
Música deste post (é bem melhor com música): "Social Call". Composição de Gigi Gryce (1974). Interpretação de Art Farmer & Gigi Gryce (1955).
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Atitude Hedonista - Autor desconhecido |
É Impossível...
Gabriel Garcia Marques, em Memórias de Minhas Putas Tristes (página 107), atribui ao imperador Júlio César a conclusão de que "é impossível não acabar sendo do jeito que os outros acreditam que você é"...
Essa colocação tem dado voltas em minha mente há algum tempo e, não raro, se faz presente de forma mais forte quando percebo que estão a tirar conclusões sobre mim ou a pressupor como agirei nesta ou naquela situação...
Fico a imaginar: “estarei me tornando aquilo que os outros acreditam que eu seja?...” Findo esse lapso reflexivo sempre com a mesma conclusão: “bobagem!... As conclusões e pressuposições se basearão invariavelmente naquilo que sempre fui e ... Ainda sou...”
Mas tenho percebido que ao insistir em ser eu mesmo, ao contrário da conclusão de César, desaponto “os outros”... Ah como gostariam que eu fizesse isso assim, aquilo assado...
E assustadoramente (?!) tenho me surpreendido a fazer aquilo que esperam que eu faça... Ainda que a contragosto...
Volta-me assim a questão, porém pondero-a à luz da resposta sobre como as coisas teriam sido se eu tivesse agido segundo meu desejo e não conforme o que era esperado...
E nessa reflexão ocorre-me o cerne da questão que aqui desejo abordar...
Que “ninguém é livre para fazer o quer, ser o que quer”... E que a história, quando retrata personagens que assim pensaram ser, forçosamente acaba por expor traços de excentricidade, de egoísmo, bravura indômita irresponsável... Aqueles que para conquistar o que conquistaram sacrificaram uma, duas, três pessoas, vidas, ou milhares delas, exércitos inteiros...
É aquele cientista persistente que acabou descobrindo fantástica teoria, mas que, para tanto, sacrificou seu amor, sua esposa, seus filhos, a quem não deu atenção, enfiado que estava nas teorias, nos laboratórios, nos livros... É aquele conquistador que construiu o maior império, a maior obra de arte, porém trucidou milhares, fez passar fome outros tantos...
Eles eram livres para fazer isso e por isso fizeram?
A resposta implica num conceito polêmico... Sobre o que é liberdade... Liberdade e conceito parecem-me que já são, intrinsicamente, termos antagônicos; eis que a amplidão sempre almejada à liberdade se choca com o fato de que conceituar é delimitar, é restringir o que se está conceituando aos termos da conceituação....
É bem possível que liberdade e conceito sejam termos daqueles que encerram mais de um significado, mais de uma acepção, segundo as circunstâncias...
Mas indago: será que existem circunstâncias que se sobrepõem às vidas a não ser aquelas que visam preservar mais vidas? Mirando mais próximo, me pergunto se a liberdade abrange o egocentrismo, a satisfação do próprio ser, o hedonismo...
Não me refiro, aqui, ao hedonismo segundo Epicuro, que busca a tranquilidade da alma (epicurismo), mas aquele preconizado por Aristipo de Cirene, contemporâneo de Sócrates, posteriormente reinventado por Julien Offray de La Mettrie, o iluminista francês, mestre do Marquês de Sade (Donatien Alphonse François de Sade) que amoralizou o hedonismo ao converter a tranquilidade d’alma em fleumatismo[1], não importando aí que Jeremy Bentham e Henry Sidgwick tenham atribuído a ele o utilitarismo, subdividido o hedonismo entre psicológico e ético, com a concepção de que o primeiro é a pressuposição antropológica de que na ânsia de buscar o prazer e evitar o sofrimento o homem elege a busca do prazer como sua motivação suprema.
Afligi-me muito mais o hedonismo ético, teoria normativa a preconizar que os homens devem ver o prazer (os bens materiais) como o mais importante em suas vidas, ainda que diferencie o egoísmo hedonista, em que o indivíduo busca somente o seu próprio bem, do utilitarismo, ou seja, o hedonismo universalista que perscruta a felicidade para o maior número de pessoas tomando isso como fundamento moral e legislativo... A ideia é que é se pode alcançar o máximo de utilidade com o mínimo de restrições pessoais, num reducionismo do direito à simples moral da utilidade coletiva — o que já estamos a ver...
Num grito de libertação deste critério quantitativo da aritmética dos prazeres, Stuart Mill considera outro aspecto: da qualidade... E elucubra “a lei do interesse pessoal ou princípio hedonístico: cada ser busca o bem e a riqueza e repudia o mal e a miséria. Nessa direção, a moral do interesse individual de Bentham assemelha-se a uma moral altruísta ou social. Mais recentemente o francês Michel Onfray milita na busca de ensinamentos, idéias, pensamentos, a fim de permitir a produção de uma vida diária eufórica.
E daí? — Indago eu... Será que todas essas elucubrações nos tornam mais livres? Ou mesmo, como querem, mais felizes? Representam que somos livres para ser o que queremos sem ferir a ética — a outra, não a criada por eles — humanística de não se construir a própria felicidade às custas da felicidade alheia? Claro que não!
No seu proceder o ser humano passa a considerar “normal”, até corriqueiro, que outrem se sinta insatisfeito com aquilo que faz em busca de ser ele mesmo, em busca da sua felicidade, no exercício da sua liberdade...
Irresponsavelmente, por exemplo, quebra-se um relacionamento amoroso sob o pretexto que se apaixonou por outro... O relacionamento atual? Que se exploda... Ele já não me traz felicidade... O outro... Ora, o outro que vá a busca da sua “próxima” felicidade... A responsabilidade por quem cativas, tão elevada por Antoine de Saint-Exupéry no Pequeno Príncipe, não cerceia, não quebra a liberdade ante tão radical posicionamento em busca da própria felicidade.
Assim, in medio, dessumo que realmente ninguém é livre à luz da existência dos anseios dos semelhantes, do compromisso com um utilitarismo maior, que é a felicidade não individual, mas da raça humana...
É concluo, nessa linha, que é, assim, realmente impossível ao ser humano, se não transformar-se naquilo que os outros acreditam que ele é, deixar de se transformar naquilo que seus semelhantes esperam que ele seja.
Quando assim não procede, é alijado, paga a pena que comprova que não se é assim tão livre como se imagina...
Quando assim não procede, é alijado, paga a pena que comprova que não se é assim tão livre como se imagina...
... que o diga o velho Marquês de Sade, que pagou múltiplas penas e, apesar da tolerância de Marie-Quesnet à sua paixão pela filha de quatorze anos de uma carcereira, ainda que amado por duas mulheres, não pode produzir as peças teatrais pornográficas que ele tanto sonhava em fazer quando um dia saísse do hospício... Mal sabe ele que elas teriam se perdido em importância face ao muito mais que transita pela nossa Rede Mundial de Computadores... Acho, mesmo, que a maioria dos filósofos, se soubessem que um dia existiria a Internet, não teriam se dado ao trabalho de filosofar!....
Sade... Bah!...
Janela do avião
Música deste post (é bem melhor com música): "Passionova". Composição de Billy Mitchel. Interpretação de Billy Mitchel Sextet.
Janela do avião
Fito um mar de nuvens...
Neles pairam figuras que me são familiares...
Filhos, ex-esposas, neto...
Os amores... Todos perfilados... Em perfeita ordem cronológica... Que empresta variedade aos formatos das figuras... A primeira namorada... A segunda... A última...
Zé Luiz, meu amigo pobre de infância... Quem primeiro me ensinou a cozinhar... Com a mesma cara com que eu o perdi pela mudança...
Alair, meu querido instrutor e mestre de natação... Marcos! O cabo salva-vidas que me ensinou as primeiras braçadas em mar aberto... Vejo sua silhueta ao lado do Alair...
Por falar em Marcos, visualizo outro, o sargento instrutor cujos paraquedas ensinou-me a dobrar e tirou-me o medo de saltar...
Ah! Lá esta meu pai... Com seu indefectível cigarro. Triste... Ponto finado mesmo aqui nas nuvens...
Seguem-se os amigos, seguem-se amores, todos esboçados nas nuvens... Lado a lado... Vivos e mortos para o mundo... Vivos e mortos na lembrança... Mortos? Será que existe morte? Daqui de cima me parece que não!
Entre os raios, uma formação difusa se identifica com o meu eu... É de manhã... No horizonte... Em minha vida...
Abreviada pelo avião que voa a favor do tempo, num fuso-horário indesejável, que não se desfaz com o retorno ao local de origem, que se satisfaz em esmaecer a vida, numa promessa de que nada subsistirá... Nem os bons nem os maus momentos... A menos que se coloque por escrito... Escrito... Da janela... Do avião... Do tempo... Sobre as nuvens... Paira... Meu pensamento...
(Sobre o Atlântico)
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