Janela do avião
Fito um mar de nuvens...
Neles pairam figuras que me são familiares...
Filhos, ex-esposas, neto...
Os amores... Todos perfilados... Em perfeita ordem cronológica... Que empresta variedade aos formatos das figuras... A primeira namorada... A segunda... A última...
Zé Luiz, meu amigo pobre de infância... Quem primeiro me ensinou a cozinhar... Com a mesma cara com que eu o perdi pela mudança...
Alair, meu querido instrutor e mestre de natação... Marcos! O cabo salva-vidas que me ensinou as primeiras braçadas em mar aberto... Vejo sua silhueta ao lado do Alair...
Por falar em Marcos, visualizo outro, o sargento instrutor cujos paraquedas ensinou-me a dobrar e tirou-me o medo de saltar...
Ah! Lá esta meu pai... Com seu indefectível cigarro. Triste... Ponto finado mesmo aqui nas nuvens...
Seguem-se os amigos, seguem-se amores, todos esboçados nas nuvens... Lado a lado... Vivos e mortos para o mundo... Vivos e mortos na lembrança... Mortos? Será que existe morte? Daqui de cima me parece que não!
Entre os raios, uma formação difusa se identifica com o meu eu... É de manhã... No horizonte... Em minha vida...
Abreviada pelo avião que voa a favor do tempo, num fuso-horário indesejável, que não se desfaz com o retorno ao local de origem, que se satisfaz em esmaecer a vida, numa promessa de que nada subsistirá... Nem os bons nem os maus momentos... A menos que se coloque por escrito... Escrito... Da janela... Do avião... Do tempo... Sobre as nuvens... Paira... Meu pensamento...
(Sobre o Atlântico)
De cima a visão é sempre bem mais ampla e nítida,mesmo por entre as nuvens imaginárias. As lembranças de repente, tomam formas e despertam o que foi vivido. É fato que nada é eterno, salvo a poesia. Essa, é indelével. Sentir e escrever, uma maneira de eternizar. Lindo poema.
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