Sobre as músicas do blog... Não devem ser consideradas simples "fundos musicais" para os textos... Foram escolhidas com carinho e apreço, dentre o que há de melhor... São verdadeiras jóias que superam em muito os textos deste humilde escrevinhador... Assim, ao terminar de ler certo texto, se houver música na postagem, termine de ouví-la, retorne, ouça-a novamente se toda atenção foi antes dedicada ao texto... "interromper uma bela música é como interromper uma boa foda... Isso não se faz!..." Por último, se você conhece uma música que, na sua opinião, combina melhor com o texto, não deixe de enviar sua sugestão...

Janela do avião

Música deste post (é bem melhor com música): "Passionova". Composição de Billy Mitchel.  Interpretação de Billy Mitchel Sextet.

 



Janela do avião

 

Fito um mar de nuvens...

Neles pairam figuras que me são familiares...

Filhos, ex-esposas, neto...

Os amores... Todos perfilados... Em perfeita ordem cronológica... Que empresta variedade aos formatos das figuras... A primeira namorada... A segunda... A última...

Zé Luiz, meu amigo pobre de infância... Quem primeiro me ensinou a cozinhar... Com a mesma cara com que eu o perdi pela mudança...

Alair, meu querido instrutor e mestre de natação... Marcos! O cabo salva-vidas que me ensinou as primeiras braçadas em mar aberto... Vejo sua silhueta ao lado do Alair...

Por falar em Marcos, visualizo outro, o sargento instrutor cujos paraquedas ensinou-me a dobrar e tirou-me o medo de saltar...

Ah! Lá esta meu pai... Com seu indefectível cigarro. Triste... Ponto finado mesmo aqui nas nuvens...

Seguem-se os amigos, seguem-se amores, todos esboçados nas nuvens... Lado a lado... Vivos e mortos para o mundo... Vivos e mortos na lembrança... Mortos? Será que existe morte? Daqui de cima me parece que não!

Entre os raios, uma formação difusa se identifica com o meu eu... É de manhã... No horizonte... Em minha vida...

Abreviada pelo avião que voa a favor do tempo, num fuso-horário indesejável, que não se desfaz com o retorno ao local de origem, que se satisfaz em esmaecer a vida, numa promessa de que nada subsistirá... Nem os bons nem os maus momentos... A menos que se coloque por escrito... Escrito... Da janela... Do avião... Do tempo... Sobre as nuvens... Paira... Meu pensamento...

(Sobre o Atlântico)

Um comentário:

  1. De cima a visão é sempre bem mais ampla e nítida,mesmo por entre as nuvens imaginárias. As lembranças de repente, tomam formas e despertam o que foi vivido. É fato que nada é eterno, salvo a poesia. Essa, é indelével. Sentir e escrever, uma maneira de eternizar. Lindo poema.

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