Em cima do muro,,,
Tenho sete filhos. D´uns participo mais de suas vidas, d’outros, nem tanto... Mas sempre estou a ver e ouvir, principalmente este último, situações que se repetem — variações em torno de um mesmo tema (preciso me vigiar melhor, estou a usar esta expressão a todo tempo).
Dentre essas, uma que já
se tornou lugar comum, com o endosso das mães, é quando iniciam um novo affaire.
Antes, porém, de
prosseguir, é preciso lembrar, quando
falamos de pessoas maduras, digo assim, acima dos trinta anos, que há
maior predisposição (ou então rejeição total) à busca de um novo relacionamento
quando, por qualquer circunstância, o atual se revela insatisfatório pelas mais
diversas razões.
Aí dá-se início a uma
busca inconsciente, do tipo “a razão diz não, o coração diz sim”. Ora, é
evidente que essas pessoas vivem momentos de indecisão; não raro se encontram
ainda em meio a um relacionamento, mas dá-se o que aqui chamei de “busca
inconsciente”.
A pessoa se abre,
torna-se predisposta a novos relacionamentos e, até mesmo, a aventuras que não
chamaria “amorosas”, mas sexuais.
Que se repetem (e aqui
vem o cantador), eis que:
Ninguem se engana
quando encontra formosa
xana,
da mulher a boa biça,
ou mesmo doce piça,
do homem o instrumento
prá fazer do prazer o
momento
E aí, depois de mês, dois ou três, a
outra pessoa, porque está dando ou comendo, se vê no direito de “cagar regras”
àquela que ainda vive sua indecisão.
“Não pode ficar em cima do muro”,
afirmam as mães a incitar as filhas, ou mesmo os filhos: “isso não é coisa de
mulher direita!”
Sem brincadeira, essa tomada de
posição faz-me lembrar velho pensamento cunhado por Thomas Chandler Haliburton,
escritor, juiz e precursor da criação do Canadá, nascido em Windsor, Nova
Escócia. Disse ele:
"Every woman is wrong until she
cries, and then she is right, instantly" (1)
Se bem que não estou aqui a
especificar se o caso é de homem ou mulher, serve, a expressão, para realçar a
falta de lógica: ora, quando se está num relacionamento, ou mesmo em fase do
seu término, nada é fácil, branco no preto... Diz-se de tudo, faz-se de tudo, a
lógica e a razão pouco falam... No amor não há honra, que me digam aqueles que
tentaram ser heróis nessa seara. Tenho
visto isto aqui no “escritório” de montão. Tudo é cinzento...
Alguns assumem essa dualidade de
situação de forma heróica, com versos verdadeiros, se pretendem bravos e
fortes; outros, nem tanto: refugiam-se em subterfúgios, pelas mais diversas
razões, normalmente não próprias — a bravura, já disse aqui [Pensamentos,
"Alimento à loucura”], é própria dos inconsequentes, raramente nobre —;
busca-se não magoar um lado ou outro, deseja-se, e ao mesmo tempo não, abrir-se mão disso ou daquilo,
quer-se dizer e fazer uma coisa, mas disse-se e faz-se outra; a diplomacia não
é inerente à condição humana, logo sua ausência não depõe contra o carente. Não
importa aí a instrumentação da dualidade: simulação, mentiras, grandes e
rompantes verdades que, de tão verdadeiras, ninguém acredita... Não será isso
uma forma de mentira [Pensamentos, Alimento à loucura] ?
Pode-se, com habilidade, dizer-se tão
somente verdades para justificar-se qualquer coisa, qualquer procedimento, do
mais baixo e reles ao mais altivo. Tomem, por exemplo, a sobrevivência: o quê
ela não justifica? É melhor um covarde vivo ou um herói morto? São mentirias
para se salvar a vida? Quem somos nós para dizer o que é importante à vida de
outrem?
Quando se inicia um novo affaire nessas condições, as
dificuldades se multiplicam, e as dúvidas se elevam exponencialmente... Leva
tempo, senão anos, voltar-se à normalidade. A menos, é claro, que se tenha
assumido o primeiro relacionamento com leviandade, aí tudo se resolve
facilmente! Mas se houve amor, filhos, é complicado!...
Ora, ser bom ou boa de cama, sair para
jantar, agradar e ter um bom papo, não é atestado, nem mesmo indício de coisa
alguma que recomende o progresso da relação à vida do outrem.
Minha filha tem em seu MSN frase que
me diverte, principalmente porque sei que convive bem com o marido...
“Viver é difícil, conviver é um
inferno!”
Mas é bem por aí... A convivência,
fora da cama, é bem diferente: parceiros de cama, se não agradam, despedem-se
e... Pronto!
Mas uma vez que se dá início a um
“relacionamento estável”, de convívio, do dia-a-dia, as coisas não podem ser
assim: não podemos “despedir” o outro por qualquer coisa. Sabemos que, por mais
que certa pessoa goste da gente, em certo momento, voluntária ou involuntariamente,
ela acabará nos ferindo de algum modo, em algum momento. E aí? O que vamos
fazer? Despedirmo-nos como parceiros de cama?
Há, neste caso, de se ter
condescendência, tolerância, como dizia um dos meus pares aos seus clientes:
“casamento é concessão recíproca, onde um cede aqui e outro concede ali...”
Eu poderia, aqui, abordar diversos
aspectos da convivência, do início do relacionamento, etc., mas desviei-me,
retorno ao tema para finalizar:
Nesses casos, em que um dos parceiros
esta saindo ou recém saído de um relacionamento, tudo é duvidoso para ele. Não
tem essa de “ou dá ou desce”. Forçar a barra, nessas circunstâncias, é furo
n’água. O que o parceiro, o outro, já bem definido, se é que é ou está, tem que
fazer, se realmente gostou do outro, é mostrar sua forma de ser, seu
comportamento real, não adianta simular, querer ser aquilo que o outro gosta,
porque um dia a máscara cai.
E dar o tempo que o outro precisa para
autoconvencer-se da conveniência do relacionamento... Se não se quiser esperar,
(olha o cantador:) com os burros vai dar... É melhor levantar âncora logo e
tomar seu rumo sem discussão, pois o amor é sentimento egoísta, não aceita
conversão em amizade.
Olhem, as pessoas não são bobas, e
quando ficam em cima do muro, geralmente têm um motivo para tanto, não digo
aquele motivo aproveitador, de querer tirar partido dos dois lados, mas há algo
de instintivo que as levam a isso...
Nesses casos, despir-se não das
vestes, mas das simulações, que querer ser que não é, e mostrarem-se como
realmente são, talvez seja, dentre as ações humanas, aquela que mais seduz,
profícua para um bom relacionamento. Afinal, já disse alguém que a maior beleza
não é quando se enxerga a nudeza do corpo, mas a nudeza d’alma.
Do mais, seja mais você para
conquistar do que para exigir. A conquista é sempre ampla, irrestrita, enquanto
a exigência limita-se ao exigido.
Por fim, lembrem-se, se o
relacionamento não der certo, antes de criticar o outro, de autocriticarem-se:
na aparência, na coerência, no proceder, na forma geral de ser... Às vezes é
preciso melhorar para conquistar!
1 "Toda mulher está errada até ela
começar a chorar, então ela se torna certa, instantaneamente.”
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