Sobre as músicas do blog... Não devem ser consideradas simples "fundos musicais" para os textos... Foram escolhidas com carinho e apreço, dentre o que há de melhor... São verdadeiras jóias que superam em muito os textos deste humilde escrevinhador... Assim, ao terminar de ler certo texto, se houver música na postagem, termine de ouví-la, retorne, ouça-a novamente se toda atenção foi antes dedicada ao texto... "interromper uma bela música é como interromper uma boa foda... Isso não se faz!..." Por último, se você conhece uma música que, na sua opinião, combina melhor com o texto, não deixe de enviar sua sugestão...

Razão para Escrever





           — Quanta sensibilidade!

           Exclamou ironicamente a voz ao ver-me escrever.

           Parei.

           Esperei que saísse e, após fechar a caneta, colei,  sobre tampa e o corpo, um esparadrapo, de forma a selar o traste escrevinhador. Aquela boca não iria se abrir tão cedo para soltar a matraca da pena de ouro.

          E, esquecida, a velha homenagem, porque à época usava-se ganhar canetas de pena de ouro  nas formaturas, repousou sob leve poeira, no fundo da gaveta, anos a fio. 

           Outro dia deparei-me com ela. Resolvi então  que já era tempo de ressuscitá-la; tentei abri-la, mas lá estava a velha bandagem sobre o ouro, a lembrar-me da múmia que produzira. Na época usava-se éter para tirar esparadrapo. Surpreso, descobri que as farmácias já  não o vendem mais.

           Desolado busquei, em meus  alfarrábios, minha velha receita de lança-perfume, que de tão velha quase havia evaporado, decidido a destruí-la Para quê mantê-la já que a matéria prima não existe mais?

            Não pude, porém,   deixar de lembrar os velhos carnavais, que de tão velhos, assim como as  lanças-perfumes, evaporaram: autor de marchinhas já não existe.

          E nem de marchas pra valer. E nem soldados que marcham: hoje voam em helicópteros, caem sobre as presas guiados por computadores.

         Ah! O Computador!

      Que letras perfeitas! Várias fontes, várias impressões, toda correção, no singular e no plural!

       Repouso o velho traste novamente na gaveta, sua tumba .

       Antes, porém, renovo a bandagem, desta vez microporizada, de nylon, não degradável, eterna  —  múmia é para sempre.

       Hoje só escrevo por causa do computador!




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